Economia Solidária] Cédulas da Paz podem deixar de circular no comércio de Paramoti

O Povo – Ceará - 05.12.2010

Rita Célia Faheina
ritacelia@opovo.com.br

Moeda social do Banco Frei Diogo corre o risco de deixar de circular por causa da qualidade do papel

Em vez do Real, a Paz. As cédulas “Paz” começaram a circular há cerca um ano e meio no município de Paramoti, a 104 quilômetros de Fortaleza, e foram muito bem aceitas pela população do município localizado no Sertão de Canindé.

Todos passaram a comprar com cinquenta centavos de Paz, 1 Paz, 2 Paz, 5 Paz e 10 Paz, moedas correspondentes ao Real fornecidas pelo Banco Frei Diogo, um banco comunitário conveniado ao Instituto Palmas, organização sem fins lucrativos que tem sede em Fortaleza e difunde as práticas de economia solidária do Banco Palmas, o banco popular do Conjunto Palmeiras.

Mas “as cédulas da paz” correm o risco de deixar de circular no pequeno comércio da cidade porque o papel frágil com que foram confeccionadas está se rasgando e a impressão não é mais a mesma, está desgastada.

Com o tempo está perdendo a cor original. “Esse é o nosso grande problema. De mão em mão há o desgaste natural do papel que não é da mesma qualidade das cédulas do Real. Já solicitamos que o Instituto Palmas mude o tipo de papel e estamos aguardando resposta”, disse o agente de crédito do Banco Frei Diogo, José Eliano Ferreira Gomes.

Ele diz que a troca do Real por Paz é uma iniciativa que busca o crescimento sustentável da economia de Paramoti. No banco comunitário, localizado no centro da cidade, os pequenos empreendedores podem fazer empréstimos e têm de 30 a 60 dias para devolver o capital em moedas de Real, mas sem juros. “Dessa forma, estimulamos o investimento nos pequenos negócios, além de aumentar a geração de emprego e renda”, diz o gerente de crédito.

O coordenador do Instituto Palmas, João Joaquim de Melo Neto Segundo, disse ao O POVO que o Banco Frei Diogo faz parte da Rede de bancos comunitários conveniados com a entidade. Segundo ele, o Instituto dá o aporte inicial, a assessoria e as primeiras cédulas. Depois, o banco comunitário passa a providenciar a fabricação das moedas subsequentes.

No caso da cédula “Paz”, Joaquim reconhece que o papel se desgasta com facilidade e, em média, tem uma duração de dois a três anos. “O papel específico para as cédulas custa entre R$ 15 mil a R$ 20 mil. É caro”.

A moeda Palmas, que circula no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, já é feita de um papel com maior durabilidade. Joaquim diz, porém, que estão sendo feitas solicitações de recursos junto ao BNDES para a fabricação de novas cédulas da “Paz” e também terá uma conversa no Banco Central para que a fabricação do dinheiro circulante em Paramoti seja confeccionado em um papel melhor.

O quê

ENTENDA A NOTÍCIA

O Banco Frei Diogo faz parte do Instituto Palmas que gerencia o Banco Palmas do Conjunto Palmeiras, em Fortaleza. As instituições comunitárias utilizam moedas específicas em um projeto de economia solidária.

SAIBA MAIS

Paramoti é uma palavra originária do tupi, que significa rio seco ou rio que se estreita. A hospitalidade e a forma pacífica de convivência são características do município que já recebeu o título de “Cidade da Paz”.

O Banco Frei Diogo foi inaugurado no dia 25 de março de 2008, data do cinquentenário de instalação do município.

Na mesma data, começou a circular a moeda social Paz. O nome da instituição foi escolhido para homenagear um religioso que esteve à frente de projetos sociais do município.

Frei Diogo foi responsável pela construção da Igreja Matriz de Senhora Sant’Ana. O corpo do frade alemão está sepultado no interior da igreja que fica no centro da cidade.

Também existe a Associação Beneficiente Frei Diogo que mantém uma emissora de rádio comunitária.

Em relação à moeda Paz, Joaqui Segundo explica que foi criado um departamento no Banco Central para cuidar dos bancos sociais. “Houve um fórum do Banco Central sobre inclusão financeira e na oportunidade discutimos esse assunto”, informou.