O Povo - Vida e Arte - 08.12.2010
| Foto: Talita Rocha |
No segundo volume da Introdução à História da Filosofia, a professora da USP defende a escola helenística
Após 16 anos, muita pressão de leitores e alguma cobrança da editora, Marilena Chaui lançou o segundo volume da Introdução à História da Filosofia.
Se no primeiro livro ela tratou dos pré-socráticos até Aristóteles (séculos 6º a 4º a.C.), agora ela trabalha com as escolas helenísticas (323 a.C. ao século 3º d.C.), período pouco ensinado e associado à decadência da filosofia.
E é contra essa interpretação que Chaui escreve. Batendo de frente com clássicos como Emile Bréhier e Hegel, a professora da Universidade de São Paulo (USP) aponta, logo na introdução, “alguns preconceitos dos historiadores da filosofia” ao tratar das escolas helenísticas.
Não que seja inovadora sua abordagem sobre epicuristas, céticos e estoicos. Mas ela se filia a uma corrente jovem, que se nutre de novas traduções e trabalhos arqueológicos recentes que permitem reavaliar o período.
Chaui, que diversas vezes repetiu a palavra “entusiasmo” para dizer como se sentia, defendeu a atualidade das escolas helenísticas, que, diz ela, desenvolveram pensamentos focados na ética num mundo que perdia a referência da pólis.
“Eles eram cidadãos da cosmópolis, se pensavam como algo universal. Aconteceu com eles algo que ocorre agora: nós vivemos em um mundo globalizado em que a referência ao Estado nacional se tornou menor.”
Em parte como sintoma do relativo “descaso” dos historiadores da filosofia, Chaui disse que gostou de fazer o livro porque “não sabia nada sobre as escolas helenísticas”. Segundo ela, foi uma “aventura” que a levou a “estudar muito”.
Heloisa Jahn, responsável pela edição da coleção, coloca a falta de familiaridade de Chaui com o tema na lista de razões pelas quais ela custou a entregar o segundo volume, mas considera inadequada a palavra “demora”.
Em primeiro lugar, Chaui publicou mais de 15 livros no intervalo, incluindo o celebrado A Nervura do Real: Imanência e Liberdade em Espinosa, de 1.240 páginas.
Além disso, Jahn diz que a primeira edição de Introdução à História da Filosofia, publicada em 1994 pela Brasiliense, “é praticamente um livro diferente” da edição de 2002 publicada pela Companhia das Letras.
Para os leitores, porém, a demora não pode ser relativizada. Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, diz que um leitor ameaçou processar a editora caso o livro não saísse logo. “Quando isso aconteceu, escrevi para a Chaui”, diz Schwarcz. “Mas a editora tem de aceitar o tempo do autor”.
A Introdução à História da Filosofia ainda terá mais dois volumes - sobre pensamento medieval e renascentista e sobre a filosofia moderna. Quando serão publicados? “Chaui não trabalha com prazos”, diz Jahn. (Uirá Machado, da Folhapress)
Quem
ENTENDA A NOTÍCIA
A paulista Marilena Chaui, 69, é uma das principais filósofas e historiadoras de filosofia brasileira. Professora da USP, Chaui é, além de respeitada por sua obra acadêmica, recordista de vendas pelos trabalhos didáticos.
SERVIÇO
INTRO-DUÇÃO À HISTÓ-RIA DA FILO-SOFIA
Autora: Marilena Chaui Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 46 (392 págs.)


quarta-feira, dezembro 08, 2010
Redação do IN

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