domingo, 5 de dezembro de 2010

RACHEL DE QUEIROZ - Memorial será aberto dia 10



Rachel de Queiroz revelou talento de escritora ainda na juventude, com o clássico "O Quinze", que surpreendeu os críticos da época. A primeira edição foi custeada pelo pai
FOTO: DIVULGAÇÃO


Diário do Nordeste - Regional - 05.12.2010

Alex Pimentel - Colaborador

Auto Filho e José Augusto Bezerra serão homenageados na inauguração do Memorial Rachel de Queiroz

Quixadá - A inauguração do Memorial Rachel de Queiroz será uma das principais atrações da programação natalina deste Município. A solenidade estava prevista para o dia do aniversário centenário da Imortal da Academia Brasileira de Letras, mas a pedido da família da escritora a festa foi adiada. O cronograma das obras também atrasou. Mas dessa vez a programação será cumprida. A presidenta da Fundação Cultural de Quixadá, Sandra Venâncio, confirmou a data definitiva, 10 de dezembro. Os parentes da homenageada, autoridades e personalidades do mundo literário já estão recebendo os convites.

Conforme Sandra Venâncio, a data de inauguração coincidiu com a exposição do Centenário de Rachel de Queiroz, no Rio de Janeiro. Além de todo o acervo literário original, a ser disponibilizado para o Memorial, várias comendas e peças pessoais da primeira mulher a ingressar na Academia estão sendo exibidas lá. Uma semana será o suficiente para despachar o material histórico para Quixadá. Tempo suficiente também para aprontar o cerimonial. Nele, serão homenageados o ex-secretário de Cultura do Estado, Auto Filho, e o curador do Memorial, o bibliófilo José Augusto Bezerra, agraciado este ano com a Sereia de Ouro. Quando for inaugurado, o Memorial Rachel de Queiroz estará aberto ao público durante toda a semana. Entretanto, nos sábados, domingos e feriados, será necessário agendar as visitas. Os interessados poderão conhecer livros, troféus, medalhas, diplomas, objetos pessoais e fotografias que mostram a escritora em diversas fases da vida. O acervo estará dividido em três ambientes distintos: sala de exposição do acervo pessoal, sala de leitura e produção literária e sala de estudos sobre a vida e obra da escritora.

O espaço histórico funcionará no Chalé da Pedra, construído pelo industrial Fausto Cândido de Alencar, na década de 1920. A edificação está na Praça da Cultura, ao lado do Centro Cultural Rachel de Queiroz. São 356.96 m² de área. Inicialmente foi erguido com o intuito de moradia. Seus inquilinos tinham em seus arredores um espaço comum destinado às crianças da vizinhança, onde foi montado um parquinho com o nome de "Casa branca da serra". Em 2007, a Prefeitura de Quixadá adquiriu o imóvel, incorporando-o ao acervo da cidade.

De acordo com a presidenta da Fundação Cultural, estão sendo investidos R$ 187 mil na restauração e adaptação do imóvel histórico. Os recursos são oriundos da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), por meio do Fundo Estadual da Cultura com contrapartida da administração pública local. O prazo para execução do projeto seria de 90 dias, mas foi readaptado para dois meses. Os serviços deveriam estar concluídos um dia antes de 17 de novembro, data dos 100 anos de nascimento da ilustre escritora cearense.

O projeto de implantação do Memorial iniciou em 2007, quando a Fundação Cultural era presidida por Irisdalva de Almeida, a Dadá. Na época, ela foi ao Rio de Janeiro, onde fez levantamento dos pertences da escritora disponibilizados pela família para apreciação pública. A principal exigência era a climatização do espaço destinado ao Memorial. Em fevereiro daquele ano o Chalé foi tombado como patrimônio histórico de Quixadá, por meio do Conselho Municipal Histórico Cultura e Ambiental.

Desde a sua construção, o Chalé nunca havia passado por nenhum restauro. Ao longo dos anos várias camadas de tinta encobriram suas características originais. Para receber peças históricas doadas pela irmã caçula de Rachel de Queiroz, Maria Luiza Salek, foram necessários estudos museográfico, iluminotécnico e de climatização.

MAIS INFORMAÇÕES

Fundação Cultural Rachel de Queiroz/ Praça da Cultura, Centro, Quixadá/ (88) 3414.4681

culturaq@fortalnet.com.br

"NÃO ME DEIXES"
Fazenda preserva a caatinga

Em Quixadá, a Fazenda "Não de Deixes" guarda lembranças do amor da escritora pelo sertão nordestino

Um das fortes heranças de Rachel de Queiroz na Terra dos Monólitos é a Fazenda Não Me deixes. A propriedade rural pertence à família da escritora. Está localizada no distrito de Daniel de Queiroz, a cerca de 30Km do Centro de Quixadá. Ainda vida, a escritora manifestou a sua família o desejo de preservação das características tipicamente rurais da fazenda. Parte do recanto predileto dela foi transformado em reserva particular de preservação. O reconhecimento foi feito pelo Ibama em novembro de 1998.

São 300 hectares protegidos de caatinga arbórea e arbustiva. A área apresenta boas condições de conservação da vegetação, sendo usada como área de soltura de aves nativas apreendidos pelo órgão ambiental federal em feiras e comércio irregular.

Venda desfeita

Segundo historiadores, a fazenda chegou a ser vendida por um primo da escritora. Ela havia recebido a propriedade de herança do fazendeiro Arceino de Queiroz, tio-avô de Rachel de Queiroz. Quando ele soube da venda conseguiu recuoerar a fazenda e devolveu para o herdeiro que havia se defeito dela para se aventurar na extração de borracha, no Amazonas. Mas ao devolver a propriedade, o tio fez o aventureiro prometer que não sairia mais do local e o batizaria de "Não Me Deixes". Quando o proprietário morreu, não tinha filhos e a terra voltou para as mãos do avô de Rachel, que a deu de herança ao pai da escritora, o fazendeiro Daniel de Queiroz Lima.

A casa da fazenda, a qual não ostenta os traços arquitetônicos de "casa grande", por seu modesto tamanho, foi construída em 1955, por Rachel e o marido Oyama. Os tijolos, as portas, janelas, inclusive os móveis, foram feitos com materiais retirados da própria fazenda.

Foi a escritora que elaborou o projeto, caracterizado por elementos rústicos: cantareiras com potes de barro, o fogão era de lenha e mobília artesanal. Ela fez até uma maquete da construção, com varas de mata-pasto, para mostrar como deveria ficar o telhado alto. A escritora passava meses a fio na fazenda, independentemente de ano seco ou chuvoso.

Descendente da família de José de Alencar pelo lado materno, Rachel de Queiroz nasceu no dia 17 de novembro de 1910 em Fortaleza, mas passou parte da infância e adolescência em Quixadá, na propriedade rural do pai, Daniel de Queiroz Lima. Rachel surpreendeu críticos e escritores quando publicou, aos 20 anos, seu primeiro romance, "O Quinze". A primeira edição foi custeada pelo pai e, segundo Rachel, foi escrita a mão em simples cadernos escolares da então jovem.

O relato do drama dos retirantes durante a seca no Ceará de 1915, escrita sem os arroubos e adocicados que caracterizavam a escrita feminina de então, chamou a atenção para aquela que viria a se tornar a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1977. Sua literatura também é conhecida pelas personagens femininas fortes e determinadas, protagonistas de suas próprias trajetórias. Apesar disso, Rachel sempre declarou em entrevistas que não gostava de escrever e que jamais relia quaisquer de suas obras.

Além de "O Quinze", escreveu alguns dos principais clássicos da literatura regionalista brasileira, como "Dôra, Doralina", "João Miguel" e "Memorial de Maria Moura". Também atuou como tradutora, jornalista e dramaturga. Apesar de radicada no Rio de Janeiro, sempre que podia passava as férias em Quixadá, onde ergueu a fazenda "Não me Deixes". Morreu no dia 4 de novembro de 2003, vítima de problemas cardíacos, no seu apartamento no Rio de Janeiro, dias antes de completar 93 anos.

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